sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sobre a mulher que você vai perder ou que já perdeu


Caro amigo,

Você não vai mais a ouvir reclamar da lâmpada que você ainda não trocou. Também não vai chegar em casa e achar a lâmpada trocada por quem cansou de pedir e esperar. Ela não vai mais se queixar da roupa que você escolheu ou te olhar torto quando você dirigir de forma imprudente. Você vai poder beber a quantidade que quiser sem precisar prestar conta, organizar seu intercâmbio tão desejado, se dedicar ao seu trabalho, passar o final de semana no videogame, no baba ou no churrasco dos amigos sem precisar dividir seu tempo. Não vai mais precisar explicar quem é aquela loira gostosa na festa de aniversário do colega de trabalho, aturar o quanto ela reclama quando está na tpm, gastar dinheiro com presentes ou doces para ela ou explicar que hoje você não está com vontade de sair, viajar ou transar porque está muito cansado. Nada de queixas sobre você estar muito ocupado ou distante. Parece bom, né?

Talvez no meio do alívio das liberdades você se lembre daqueles olhos vivos, brilhantes, que sempre tiveram a ousadia de olhar no fundo dos seus antes de te desafiar ou sacanear. Quem sabe aquele sorriso de canto de boca de quando ela tem plena consciência de que foi maliciosa e que você achava um charme comece a fazer falta em algumas situações cotidianas. É possível que você sinta falta de sentir ciúme dos olhares masculinos vidrados no decote dela – e enfim se lembre de que era um decote mesmo irresistível e de quantas vezes você mesmo se viu com o pensamento perdido ali. Eventualmente você vai sentir falta daquele beijo arrebatador, suave e lascivo, com o qual ela te provocava.

Depois, quando você voltar ao mundo da caça, pode ser que sinta uma baita falta da simplicidade dela – de como ela sabia conversar sobre qualquer assunto, de como sentava de shortinho no chão, de como ela sabia rir – de você, dela mesma, das mazelas da vida – e de como era charmosa sendo irônica ou falando palavrão. Provavelmente é aqui, ao se deparar com outras mulheres, que você vai sentir falta do jeito que ela te apoiava nas suas empreitadas, da forma como ela sempre te escutava ou raramente te pressionava, da independência com a qual ela tocava a própria vida.

Certamente você vai descobrir que uma mulher cuja prioridade não seja o carro que você tem ou quanto dinheiro você tem na conta, que possua disponibilidade para acompanhar seus pais ao médico quando você não pode, que fique ao seu lado quando você está doente ou que não queira controlar seus passos, é item raro nesse universo de encontros rasos, pessoas voltadas para a satisfação das necessidades do próprio umbigo, assuntos triviais, jogos indiretos e medo de ser tocado.

Mulheres como ela são raras e por isso costumam ser disputadas - acredite em mim, sempre tem alguém que já percebeu o quanto ela é especial. Mais dia menos dia você vai vê-la de mãos dadas com outro cara, tão charmosa e sorridente quanto sempre. E talvez você se lembre dos versos de “O sol acima do sol” do Skank: “Tão fácil perceber / Que a sorte escolheu você / E você cego, nem nota / (...) / Você gastou sua cota.”

Pense sobre isso - se você der a sorte de achar outra dessas mulheres, quem sabe não já aprendeu a sorrir de volta antes de gastar sua cota?!

Com carinho,

Juliana

04/12/2015

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