quinta-feira, 2 de junho de 2016

Romance.



A gente pode culpar o horóscopo, o complexo de édipo, o fato de ter sido filha única durante muito tempo, o excesso de filmes românticos, a adolescência embalada pela voz do Renato Russo e do Marcelo Camelo, o dom de dramatizar digno de Shakespeare ou até mesmo a habilidade de ficcionalizar a realidade adquirida com anos de prática elaborando roteiros para a vida das bonecas Barbies. A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser, como dizem por aí.

Eu batizaria de síndrome de Lisbela. Sim, eu quero um amor desses de cinema. Não, não se engane, não faço questão que o show seja para a platéia. A platéia do espetáculo há de ser só eu mesma, que apesar de tudo, nem sei como, eu sou discreta. Adoro uma purpurina, um paetê, um spotlight, um filtro que deixe a cena mais bonita do que ela naturalmente é - mas gosto de tudo isso em silêncio, sem alardes, protegido do palpite alheio.

Desculpa, é que as vezes eu me perco e quando eu me acho é um Deus nos acuda, sempre apareço sabendo exatamente o que eu quero e o que eu quero é romantizar a minha vida. Não, não quero personagens com roupas de tons sóbrios, fotografia realista, roteiro de filme europeu cabeção. Deus me livre! Eu tô mais pra cores de Almodovar, mulheres de Almodovar, inseguranças, paranoias e frases de efeito Allenescas e toda sorte de beijos, da preferência de qualquer diretor. Vira o homem aranha de cabeça pra baixo, coloca uma chuva pra cair enquanto o casal rodopia, traz a Bridget Jones de calcinha e sobretudo correndo atrás até ganhar o encontro dos lábios. Brega, mas e daí?

Eu quero o cheiro da pipoca. O deslumbramento diante das cenas. A ansiedade de não saber o que virá depois. Eu quero chorar. E quero rir. E quero me apaixonar e ver beleza nas histórias por conta disso. Quero andar na rua e lembrar que ali protagonizei a cena tal. Ouvir uma música e lembrar de um momento. Não tem jeito, eu só sei ir se for de cabeça. Mais do que isso, ir de outro jeito não me interessa, mesmo.

Então, só entre em cena se for pra fazer cena. Não quero figuração. Encontros formais. Não, não. Eu quero olhos nos olhos. Quero ser chamada de linda. Quero abraços apertados. Quero ouvir que você sentiu saudade. Quero tomar um vinho numa noite de céu bonito. Quero dormir junto. Quero que ao acordar você queira me dar bom dia e que pensar em passar dois dias sem falar comigo seja uma agonia. Quero que você pense sobre como m agradar. Desculpa, mas é o que eu quero. Se a vida não tem roteiro eu posso encher a minha de graça como me convier, correto? Escrevo minhas palavras, sorrio meus sorrisos, rego minhas flores, me capricho, me exagero.

Não quero ser figurante que mata as tardes de terça nas quais você não teria o que fazer. Não quero mais do mesmo que o mesmo eu tô sempre colorindo, recortando, pincelando, reescrevendo, reencaixando, fazendo o avesso do avesso do avesso. Você já me ouviu contar um caso? Pode ser sobre a ida a padaria e voilá, lá estou eu colocando pitadas de emoção. Eu só quero ficar eternamente no cinema. Eu só tenho uma quedinha pelos palcos. Eu só gosto de me encantar com histórias. "Eu quero a cena onde eu posa brilhar, um brilho intenso, um desejo, eu quero um beijo, um beijo imenso, onde eu possa me afogar." Apenas.



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