domingo, 17 de janeiro de 2016

Fora das cercas


Se durante um café me perguntassem o que eu acho desse manual de etiqueta do que pode ou não pode fazer quando estamos flertando ou nos relacionando com alguém eu diria: besteira pura. Isso, contudo não me isenta de já ter seguido o manual, pois quando acrescentamos o ingrediente “sentimento” o caldo costuma entornar. É como diz o meme: quando a gente gosta é claro que a gente surta.

Em uma análise mais metafórica somos todos iguais ao Arlo, dinossauro do novo filme da Pixar. Vivemos dentro dos limites cercados que nos foram apresentados e não fazemos ideia de que “há tanta vida lá fora” – como não estamos familiarizados com essa vastidão só nos resta tentar responder aos acontecimentos inesperados com a nossa resposta padrão, que muitas vezes é a única que conhecemos por se aplicar ao habitat emocional que vivemos.

Quais seriam as nossas cercas? Disputar para ver quem demora mais para responder uma mensagem para não parecer interessado demais, anunciar que não estamos procurando nada sério (ou até estamos, mas só com a pessoa perfeita que já idealizamos em nossa mente e que só existe por lá mesmo), disputar para ver quem “está por cima” (e não no sentido gostoso!) na relação, não falar de sentimentos para não dar ao outro a impressão de que estamos tentando captura-lo ou dando a ele o poder de agir sobre nós, fingir que não tem interesse para não parecer fácil. Se namoramos a pessoa colocamos regras em seus comportamentos tentando mantê-la na fôrma para evitar que ela nos machuque: não vai sair com as “amiguinhas/amiguinhos”, não pode falar com ex, ir pra balada sozinho nem pensar,  etc eterno que todo mundo conhece (né?).

Qualquer coisa que fuja dessa raia de repertórios aprendidos e repassados geracionalmente como “instintos para não ser feito de trouxa” logo nos salta aos olhos e faz com que saiamos repetindo nossas sabedorias em forma de conselhos normativos para nós e para os outros.

Será que, talvez e apenas talvez, não estejamos perdendo de ir lá fora conhecer os buracos de porquinhos da índia, campos de vagalume ou águas límpidas do rio? Será que estamos tão iludidos tentando controlar o incontrolável que estamos abrindo mão de viver o “vivível”? Será que nos damos conta de que estamos nos iludindo porque sim, de fato, não controlamos nada independente de quantas regras sigamos e do quanto sejamos bons em coloca-las em prática?


Não vou dizer que não foi difícil pro Arlo ir lá fora e desbravar, mas certamente ele se tornou um dinossauro muito mais maduro e preparado para a vida real – e ainda se divertiu durante o processo. 

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