Naquela quarta-feira fiz seis
entrevistas individuais de seleção e ao perguntar aos candidatos que
características eles ainda podiam melhorar em si próprios ouvi sempre a mesma
coisa: poderiam ser menos ansiosos. De uns tempos pra cá essa resposta tinha se
tornado habitual, mas seis assim em sequência chamou minha atenção. Parece que
todo mundo se percebe como ansioso e não se sente satisfeito com isso.
De forma macro com os avanços
tecnológicos nós fomos sendo convidados a desaprender a esperar. Se meus pais
tinham que ir a biblioteca ou pesquisar na Barsa para tirar uma dúvida eu me
irrito se o google demora vinte segundos pra me dar as respostas. Será que
alguém se identifica com a impaciência diante da imposição de aguardar
burocracias ou respostas advindas de terceiros? Ninguém nunca se queixou sobre “esperar
tanto por algo tão simples de ser resolvido”?
Quando o blackberry surgiu lembro o boom: era
o celular dos homens de negócios que agora em proporções até então nunca vistas
estavam disponíveis para o trabalho em tempo integral. Email, chat e telefone
no mesmo aparelho, que ainda por cima acusava o recebimento. Não preciso dizer
que a sensação é igual a do médico que está de sobreaviso, né? Ele não está no
hospital, mas de certa forma está. Atualmente diante dos índices crescentes de
doenças psíquicas algumas empresas emitem comunicados salientando que o
aplicativo de bate-papo do celular não deve ser usado como meio de comunicação
oficial. A palavra “folga” precisa existir de forma concreta. Será que isso é
efetivo na prática?
Se antes trocávamos cartas com longos
intervalos de espera ou mais recentemente ficávamos do lado do orelhão ou do
telefone fixo esperando aquela ligação importante hoje somos facilmente achados
a qualquer momento via whatsapp – que, maroto, facilita tanto que permite que
as pessoas nos respondam enquanto fazem outras coisas, criando uma nova lógica
de comunicação; basta olhar a quantidade de memes sobre “visualizou e não
respondeu” para entender a angústia e a sensação de rejeição que isso tem
causado, por mais simples que pareça em primeira análise.
Dizem que a ansiedade é o excesso
de futuro no presente e eu acredito nessa lógica. Fazemos a entrevista de
emprego e já começamos a imaginar os cenários com as respostas possíveis.
Saímos com alguém e queremos logo saber no que vai dar. Respondemos a prova e
já estamos pensando na nota. Quem já teve ou já assistiu uma crise de ansiedade
sabe do que eu estou falando! É incrível o fenômeno: nosso corpo está no único
lugar fisicamente possível, o presente, enquanto nossa mente está em outro
lugar completamente diferente se alimentando de emoções criadas por ela mesma
no caldeirão de projeções, expectativas e experiências anteriores (afinal lembro
que ainda não sabemos o resultado do processo seletivo, do relacionamento ou da
prova!). Ansiedade é justo isso, sofrer por não saber.
Na escuta clínica a ansiedade
aparece cheia de “quandos”, daí o título desse texto ser uma alusão ao poema de
Vinicius de Moraes, Poética I. As pessoas trazem as perguntas cheias de desejo:
Quando eu realizarei meu sonho de ser mãe? Quando eu vou conhecer o amor da
minha vida? Quando eu vou conseguir aquela promoção? Meu tempo de ser feliz é
quando? E dos desejos incessantes nascem as dúvidas indelegáveis: Será que eu
sou suficientemente competente para o serviço que me contrataram? Será que eu
vou dar conta de ser mãe? Será que eu consigo me virar sozinho? Será que fulano
gosta de mim ou sai com outras pessoas também? Será que eu vou conseguir ser
feliz?
Se pudéssemos queríamos nossa
vida resolvida por decreto. Todos os spoilers anunciados em nossos ouvidos para
evitar o sofrimento de imaginar, de esperar, de não saber. De preferência que o
trailer já dissesse com quem a gente vai ficar no final pra gente nem gastar
tempo e energia criando histórias “a toa”. Só que a vida não é um texto e sua única
conclusão possível é a finitude. Uma vida resolvida é uma vida acabada – que está
resolvida por não ser mais possível de ser vivida, apenas.
Na hora do aperto respirar
realmente ajuda. E eu costumo usar uma frase da Clarissa Pinkola Estes que diz
que “quando uma vida é excessivamente controlada, cada vez há menos vida a
controlar”. Faz sentido né? Quanto menos minha mente escrever o roteiro prévio
do que vem a seguir menos eu tendo a sofrer com as improvisações que a vida
impõe. As vezes isso me consola.
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